terça-feira, 5 de maio de 2009

Beleza de Mulher

Por Zean Bravo

Linda aos 51 anos, Natália do Vale deixa homens e mulheres boquiabertos com a ousadia de Carmen em ‘Páginas da Vida’. Tímida na vida real, ela fala de seu jeito relax de ser

Rio- A apresentação de Natália do Vale em "Páginas da Vida" foi na cama, como amante do garanhão Greg (José Mayer), quando esse ainda era marido da heroína Helena (Regina Duarte). Mais de 100 capítulos depois, sua personagem, Carmen, está casada com seu objeto de desejo, mas é traída pela sirigaita Sandra (Danielle Winits). “Todo mundo tem seu dia de corno, né? Agora é minha vez. Já falei para o Zé que será dele a próxima surra”, brinca Natália, agora na expectativa da personagem descobrir que está sendo traída.

Beijos e tapas fazem parte do repertório de Carmen. Em cena, ela já distribuiu sopapos no ex, Bira (Eduardo Lago), e deu surra de cinto em Sandra. “Todo mundo teve orgasmos com essa cena”, diverte-se a atriz, que abusa de uma voz quase infantilizada quando a personagem quer seduzir. “Aparentemente ela é uma mulher sem proble-mas. Fogosa, bonita e bem-resolvida. Não que eu tenha baixa auto-estima, mas Carmen é muito bem-resolvida. Se eu tivesse metade da ousadia dela... Por tudo que representa e por toda a repercussão que trouxe para mim, Carmen ajuda a levantar minha auto-estima.”

Classuda e bela na faixa dos 50, Natália provavelmente está com o ego nas alturas. Mas durante a entrevista, num camarim do Projac, o colega de cena José Mayer chega e lê um e-mail de um telespectador apaixonado pela atriz. “Você não precisa disso para levantar sua auto-estima, mas aqui está”, continua ele, que lê o e-mail em voz alta e depois entrega à atriz. “Todo mundo precisa, né? Essas coisas são tão boas...”, suspira Natália.

Discreta na condução da sua vida, a atriz não esconde a satisfação de ter o trabalho elogiado. Mas deixa claro que não gosta de entrevistas – ela esquivou-se da nossa reportagem por mais de duas semanas. Por telefone, alegava o horário apertado das gravações. Pessoalmente, tratou de desculpar-se: “Sou tímida e não gosto de falar de mim. Não sou celebridade, sou atriz.”

A reserva em abrir a intimidade só aumentou depois de ver um recente documentário sobre o ator Marcello Mastroiani. “Ele diz que o público não precisa saber de tudo. Alguma coisa da vida pessoal tem que ser só sua”, propaga a atriz, que não gosta nem de revelar quantos anos tem. “Que idade você vai botar aí? Ator não deveria falar disso para poder fazer qualquer papel. As revistas erram e não me ligam para saber, já botaram que tinha 55 anos. Tenho 51 anos, se você quiser botar, pode”, resigna-se.

Outro tema que Natália prefere passar batido é sua beleza. “Não gosto de falar disso. Não sou contra plástica, nem a favor. Sou a favor de ser feliz. Tem gente que se dá bem botando silicone; eu não tenho. Já tenho peito grande desde que era moda ser pequeno”, desconversa.

Depois de alguma insistência, ela conta que faz ginástica desde os 20 anos. Dieta? “Não consigo fazer. Vou na sorveteria e compro sorvete de pistache, com muita gordura hidrogenada. Levo para casa e enquanto o potão não acaba fico lá”, diz.

Reunir amigos em casa em torno de boa comida é prazer de que ela não abre mão. “Sou muito feliz comendo. Gosto de u m bom vinho, um bom champanhe. Chamo uns amiguinhos e faço um risoto, uma carne ou um macarrão. Gosto de todo mundo sentado no chão batendo papo”, revela.

A atriz adora cozinhar, mas não dispensa a ajuda da empregada. Afazeres domésticos em tempo integral só quando foi para a Inglaterra, em 1991, acompanhar o segundo marido (hoje, ela não revela seu estado civil), por um ano: “Lá, eu brincava de dona-de-casa.”

Moradora do Leblon desde a adolescência, Natália se diz figurinha fácil do bairro. Ela garante conhecer os personagens da vida real (como os funcionários de livraria e padaria) que aparecem fazendo ponta na novela. “Encontro o Bira (chama Eduardo Lago pelo nome do personagem) no calçadão e falo ‘oi, marido’”, ri.

E diverte-se com uma história recente. “Outro dia fiz uma cena lá, botei minha roupa e fui em direção à minha casa. Veio um segurança do meu lado, dizendo que iria me acompanhar. Falei que se fosse me acompanhar pelo Leblon teria que acordar às 7h. Ando na rua todo dia, compro pão, vou ao supermercado.”

Crônico do cotidiano, Maneco recheia "Páginas da Vida" de cenas como as citadas acima pela atriz. A Carmen de Natália não perde tempo com esse diaa- dia do Leblon. Uma personagem que começou na cama tem é história para contar. “Cena de sexo depende do ator com que você contracena. Conheço o Zé Mayer desde 1980, mas ele se espantou agora e me disse: ""Pensei que você fosse séria"". Respondi: ‘Sou louca, Zé’”. Uma louca cheia de charme.

Protagonista esquecida

Natália protagonizou ‘Começar de Novo’ ao lado do atual colega de elenco Marcos Paulo, em 2004. A trama, exibida às 19h, não decolou. “O horário das 20h dá mais repercussão. ‘Começar de Novo’ teve vários problemas internos que eu nem tomei conhecimento”, garante a atriz, que vinha de um sucesso e tanto: a madame Sílvia, de ‘Mulheres Apaixonadas’ (2003). “Ela não fazia parte da trama central, mas era um personagem bom. No começo de ‘Páginas’ as pessoas achavam a Carmen parecida com ela. As duas são muito sexuadas”, compara.

Carmen, passional, também faz sofrer

Natália afirma que Carmen é uma mulher cheia de contradições: “Ela é egoísta, egocêntrica, mas não é uma coisa só. Passa por diversos canais de emoção e se revela muito humana nas cenas com o pai (papel de Tarcísio Meira)”, diz a atriz, que exercita o humor em cena. “Tem esse lado comédia, que é bom”.

As cenas de pancadaria elevam a audiência, mas deixam a atriz tensa. A tal surra de cinto que deu em Danielle Winits foi precedida de sofrimento. “Foi difícil por problemas pessoais. Quando cheguei e olhei para a Dani tive vontade de chorar. Achei a cena muito violenta. Bater é um sentimento muito agressivo, um pouco fora das minhas possibilidades. Demorei um certo tempo para incorporar esse desejo de bater”, lembra.

Ela acha que terá que distribuir mais tapas quando Carmen descobrir que está

sendo traída. “Disseram que ela vai dar um tiro, mas a Carmen é mais passional, não planejaria isso. Ela vai cair no tapa”, acredita.

A madame e o taxista

A dondoca Sílvia, outra personagem com grife Manoel Carlos, mexeu com a libido de muito marmanjo ao se envolver com um taxista. “Tempos depois da novela peguei um táxi e custou uns R$14. O motorista disse: "Pra você é R$10". Achei que era por eu ser atriz, mas ele disse que o desconto era em homenagem à minha história com o taxista”.

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